GENTE RIO-GRANDENSE – Gênese

 

   
  Enfocar estrutura genealógica dos Carneiro da Fontoura, é enfocar a estrutura dos primeiros colonizadores. É por isso que se diz, este grupo representa um dos mais significativos troncos seculares, pois intermeia todos os demais formadores, desde os mais remotos tempos da presença Ibérica no Brasil Meridional. É, também, sintetizar a presença de todas as etnias que se fizeram presentes, sejam elites, sejam prestadoras de serviços (culturais ou militares), sejam como modestos serviçais.
Daí decorre o entendimento dos grupos étnicos formadores do Rio Grande até o primeiro quartel do século XIX, e que depois foi agregado por alemães e italianos, principalmente.
   

 

CONCEPÇÃO INICIAL

No começo, em grupos pequenos chegam os brasileiros (gaúchos, paulista, baianos), filhos dos primeiros emigrantes portugueses chegados em 1737 ou ainda antes, quando das arreiadas para angariar gado para comercializar no centro do País. São os portugueses, que ainda migram vindos especialmente da região norte de Portugal. São, ainda, os retirantes da Colônia do Sacramento, que desde as fronteiras de Rio Grande, espalham-se pelas fronteiras de Rio Pardo. Tem em grande número, os próprios ilhéus (açorianos e madeirenses) que chegaram no Rio Grande desde meados do século XVIII. Os negros, que de escravos, tornam-se forros, e finalmente conquistando a liberdade, em 1888, vão lentamente miscigenarm-se a gente gaúcha. Os índios, depois de catequizados, também compõem a formação étnica, em número pequeno, especialmente na região enfocada. Mas já não é o caso dos castelhanos orientais, que em maior número para aí se deslocaram favorecidos pela dominação espanhola em certos tempos e pela prosperidade da pecuária após 1801.

 

1 – ILHÉUS: AÇORIANOS E MADEIRENSES

Os arquipélagos dos Açores e Madeira, hoje regiões Autônomas (Constituição Portuguesa de 1976) é a parte insular de Portugal dos descobrimentos. Em meados do século XVIII, registra-se um forte deslocamento desses ilhéus para a América portuguesa devido a:

– Superpopulação, e consequente fragilidade econômica nas ilhas, principalmente nos Açores;

– Erupções vulcânicas de. 1720, 10-julho, forte erupção vulcânica na ilha do Pico.

– Conquista do Brasil Meridional, uma dura disputa com os castelhanos.

Transcurso penoso, doenças (infecciosas) higiene insuficiente, promiscuidade. Muitas mortes.

Inicialmente para a ilha de Santa Catarina, de 1747 a 1750, são 6071 ilhéus transportados. De 1750 até 1754, o destino é Rio Grande, quando 1273 açoritas chegam e rumam para Viamão (Porto dos Casais) (*1). As Missões, território recém permutado pela Colônia do Sacramento, no Tratado de Madri, precisava de forte presença portuguesa para configurar seus domínios.

            Os Coloneses

   
Antes, porém, a Colônia do Santíssimo Sacramento, recebera, além de 60 casais de trás-montanos, ilhéus que lá deveriam consolidar a posse de tão avançado reduto português, afrontando os bonairinos desde 1680. Este contingente, em 1777, uma vez cessada a ocupação dessa praça, ou foram aprisionados e retidos em Buenos Aires, ou tornaram-se retirantes para Rio Grande, Santa Catarina ou Rio de Janeiro. Os coloneses de Rio Grande foram espalhando-se para fundar os núcleos de Pelotas, Piratini, Canguçu, Jaguarão e Bagé e também em centros já estabelecidos como Viamão e Rio Pardo.  
  Portal da Colônia do Sacramento – Vista Atiual

 

2 – CONTINENTINOS  

Do norte de Portugal, especialmente de Trás-os-Montes, muitos são os portugueses que rumaram para a América, desde a implantação do sistema de Capitanias Hereditárias. A cultura do açúcar e, depois, a mineração do ouro e pedras preciosas leva um apreciável contingente de colonizadores para Minas Gerais. A mineração próspera, necessitando de couro e mulas para o transporte, recorre aos vicentinos que se transformam em intermediários no suprimento desses produtos. Eles vão abrindo picadas rumando cada vez mais para o Sul, chegam ao continente de Viamarra.

O tronco secular dos Carneiro da Fontoura, enfocado neste estudo, deriva de João Carneiro da Fontoura, proveniente de Chaves, vila portuguesa, da região Trás-os-Montes que casou com Isabel da Silva, a quem muitos pesquisadores, lhe dão origem cigana.

Nota: A imagem ao lado é ilustrativa, enfocando uma moçoila cigana em dia de festa.

 
https://aminhafe.jimdo.com/a-cultura-cigana/

 

 

3 – LUSO-BRASILEIROS

Desde o final do século XVII, quando os vicentinos iniciam as tropeadas de muares e levando o couro do gado chuço que campeia as vacarias d’el Mar e dos Pinhais, começa a presença de forasteiros em terras sulinas. O assentamento é pequeno, alguns vaqueanos, origem dos gaúchos (homem campesino). A medida de que Portugal intensifica a conquista do Sul, da Bahia e principalmente vicentinos se entremeiam aos casais de número que aportam pelo Rio grande. Pinto Bandeira é um desses, Jerônimo Dornelas, também.

 

4 – NEGROS E SILVÍCOLAS BRASILEIROS

Dos jesuítas, que mediante sua catequese, pouco ou nada restara depois que serem banidos, sob a suspeita de estarem implantando um Estado Cristão na América. Eles também são responsáveis por certa miscigenação de raças. Indígenas civilizados ou não em alguns momentos aparecem em ramos dos conceituados troncos seculares.

Os negros, mina, crioulos, já se fazem presente desde os primeiros registros de batismo em Rio Grande. Eles chegaram como agregados aos casais, primeiros povoadores.

Ora, se os assentamentos de batismos ocorrem para estas etnias minoritárias, embora minoritárias, sua presença deve ser considerada. Bem depois, a escravidão se intensifica, tomando uma cunha segregacionária, que a abolição, olhando para os patrões, beneficia-os sem adotar uma política de integração para os libertos. Um êrro, uma dívida social, que levará mais de um século para então vir à tona, até que se esboce uma leve justiça, pela natural mudança de valores morais.

 

5 – CASTELHANOS – OREINTAIS

Sua presença decorre de uma integração natural da região fronteiriça. Em especial se enfocado o tempo que vai de 1750 a 1851 quando o domínio se alternava entre castelhanos e luso-brasileiros, o estabelecimento dos hermanos nas regiões em litígio tem significado deveras importante. Outro fator foi o desenvolvimento da pecuária por atender o Centro do País tornou-se mais próspera na fronteira.

 

6 – EUROPEUS

   
Outra minoria, assim como os nativos, ameríndios ou africanos, é representada pelos europeus. Portugal (assim como a Espanha) um dos primeiros Estados modernos, é uma potência graças a seus descobrimentos e domínio do comércio oriental. Economicamente forte, para lá convergem habitantes de outros reinos em busca de oportunidades, Só que esta minoria ingressa na colonização portuguesa como elite, muito embora ainda a serviço da nobreza luza. Aí temos, os franceses, os ingleses, os alemães e italianos ora em funções militares, ora culturais. De outra natureza, é a presença italiana e alemã (e outras) que se introduziram no século XIX e hoje muito forte na formação da gente rio-grandense, é outro capítulo genealógico a se caracterizar.  
Na genealogia dos Carneiro da Fontoura, os Charão (Grupo 5), representam um importante segmento da presença alemã nos tempos remotos. Também há de se citar, em menor número, no Grupo 9, os Agon, Costallat, Ursuá, Montojos, Duclos, ai miscigenando-se entre os troncos seculares. Obra de Ernst Zeuner retrata a chegada dos primeiros imigrantes alemães pelo atual Rio dos Sinos à Feitoria do Linho Cânhamo (hoje São Leopoldo), há 184 anos. Segundo dados do IBGE, desembarcaram no Brasil 258.342 imigrantes entre 1824 e 1969.

Outro grupo de europeus, é o dos visinhos ibéricos, representados pelos castelhanos. Embora postos em campos opostos em suas disputas territoriais e políticas eles formam um contingente importante. Especialmente, na região fronteiriça, os hispano-americanos se entrelaçam com muita facilidade. Há de se entender que as fronteiras por quase todo o século XVIII modificaram-se muitas vezes – Tratados de Madri, Santo Ildefonso. Os campos a margem direita do rio Santa Maria, por exemplo, só em 1750 se definem como de Portugal. Mas é após 1811 que a ocupação se torna predominantemente luso-brasileira. Isto em decorrência de um pretensioso domínio do Sul (contra os castelhanos) e do Norte (contra os franceses), quando a Família Real já estava radicada ano Brasil.

 

   
 

A GÊNESE

Nestes termos, formava-se a gente rio-grandense até o ínício do Século XIX. Em 1803, o Rio grande do Sul deveria contar com 37.000 habitantes distribuídos em menos de 30 vilarejos e em 1822, atingia os 106.000 para cegar aos 1.350.000 em 1900.

Nessa época, início do Século XX, uma significativa corrente imigratória, formada por italianos, alemães, poloneses, veio configurar a formação do povo gaúcho, incrementando valores industriais a economia até então assentada na atividade primária, pecuária e também na agricultura de subsistência.

Diante de novos valores agregados ao respeitável espírito guerreiro, daqueles luso-brasileiros, às gerações atuais entendem perfeitamente o presságio de Francisco Pinto da Fontoura, a consciência de que não basta ser livre e forte, povo sem virtude acaba por ser escravo.

Folder para a 40ª Expointer, exaltando a gente e a agropecuária atual.  

 

 


Nota

(*1)     Francisco Barreto Pereira Pinto, quando ainda Capitão, comanda o arranchamento de açoritas no sítio do Dorneles, distrito de Viamão. Era o ano de 1753, a tarefa revestia-se de extrema delicadeza. Aquela gente, recém-chegada, como se rejeitada em Santa Catarina, depois em Rio Grande, sem rumo, desesperançada, já vindo sofrida das superpopulosas ilhas dos Açores. Os mantimentos escassos, incerteza no prometido assentamento. Ninguém como ele dispunha de tanta habilidade e poder de persuasão para lidar com aquele grupo de povoados. Foi incansável o Cap. Pereira Pinto.